quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

2006... O Assassinato Diário... (Naquela época....)


O assassinato diário.
Numa manhã qualquer acordei e fui assassinado.
Mesmo assim resisti e saí para os meus deveres.
Produzi para minha própria felicidade e satisfação, pelo menos era o que eu imaginava por toda a minha vida de morto,  de uma vida revolvida de sentimentos zumbis.
Quisera eu fazer com que minha felicidade fosse de um jeito tal que não ousasse denegrir os meus próprios princípios. Quisera meus sonhos fossem meus mesmos, e de verdade sentisse-me satisfeito por eles. Quisera que meus bens fossem para sempre meus, e que meus sonhos fossem, para todos, úteis.
Quisera acordar, desviar das balas, facas, frases, canhões, não perder meu tempo me enchendo de perfumes, desodorantes, hipocrisias, papeis. Sair da minha casa, moradia, mundinho, meu solido sentimento, e chegar onde eu queria e não precisar dizer a todos o que todos devem dizer a mim: Bom Dia. Desejo hipócrita. Mecânico. Robótico. Insalubre. Injusto. Simplesmente por dizer, diz-se.
Quisera todos tivessem realmente com quem dizer, falar, ouvir.
Quisera todos pudessem morrer para o mundo chato e linear.
Quisera todos sonhar.
Quisera todos pensar de verdade.
Minha morte fora útil para alguns, para mim o mesmo. Não dependo dos meus cansaços; o meu quinhão esta seguro, mas dependo da boa vontade dos outros zumbis.
Volto, portanto, para o meu velório, por entre e dentre lapides observadoras.
Chego portanto ao meu enterro.
Morro para este bando de mortos-vivos.
Minha redenção, minha ressuscitação fora triunfal. Meu glorioso mundo, meu mundo fantasioso.
De meus sonhos a minha vida é oposta, simplesmente sem sentido, sem razão. Faço-me cálculos mirabolantes para manter a minha morte. Faço-me sonhos alienados para manter a minha vida.
Sou o meu próprio salvador. Respondo as perguntas que meu ser não as faz. Simplesmente me fascino comigo, que me surpreende as expectativas.
Sou meu deus, meu diabo; respectivamente meu dever e o meu prazer.
E não espero, vivo na ilusão que serei assassinado quando o meu dever me chama, na cabeceira da cama, com os números coloridos e brilhantes que apitam, gritam, forçando o meu sangue a fluir, esvaecer a minha  vida, eu por todo fenecer e recomeçar a morte no submundo dos sonhos materiais. 

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